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INTRODUÇÃO

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O presente estudo foi elaborado no decurso do desenvolvimento do projeto de investigação ESAP/2015/P16/DARQ – Projeto de sistema de fixação de revestimento para fachadas ventiladas, financiado pela ESAP – Escola Superior Artística do Porto na sequência de um concurso com júri internacional.

O estudo foi dirigido pelo Prof. Sérgio Mendes.

Trata-se de um estudo comparativo de diversos sistemas de fachadas ventiladas existentes no mercado nacional e dirige-se aos estudantes dos cursos de arquitetura .

Pretende-se com este estudo, por um lado, dar a conhecer as vantagens da utilização de fachadas ventiladas nos edifícios, nomeadamente no que se refere à melhoria das condições de conforto, de comportamento higrotérmico e da respetiva sustentabilidade.

Por outro lado pretende-se que o presente estudo sirva igualmente como manual didático para os alunos. Por esse motivo expõem-se as características dos diversos sistemas, focando as especificidades de cada um. Não se pretendendo ser exaustivo na enumeração das soluções construtivas existentes, uma vez que para esse efeito nos remetemos para a base de dados desenvolvida para esse efeito, apresentam-se ainda as pormenorizações tipo mais correntes utilizadas para cada material.

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

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As fachadas ventiladas têm vindo a conquistar o mercado da construção civil em Portugal, tendência que tem vindo a adquirir maior notoriedade nas duas últimas décadas. Trata-se, em parte, de uma evolução dos sistemas construtivos inicialmente utilizados para corrigir as pontes térmicas nos edifícios.

Com efeito, na Península Ibérica como noutras zonas do mundo, nas décadas de 70 e 80 do século passado, foram sendo ensaiadas em diversos edifícios soluções construtivas em que se procurava separar a parede exterior de alvenaria do restante edifício através da interposição de uma câmara-de-ar contínua.

Vicente Moreno, um reputado arquiteto e investigador Catalão, no seu livro Fachada Ventilada e no contexto da construção em tijolo-à-vista em Espanha, designou este tipo de fachada como uma “fachada corrida” .

A principal inovação das “fachadas corridas”, para utilizar a sua expressão, era o fato de possibilitarem a aplicação dos isolamento térmicos em toda a extensão da câmara-de-ar sem criar pontes térmicas, ao contrário da alvenaria dupla confinada pela estrutura do edifício.

O conjunto formado pelo isolamento térmico contínuo e o ar parado contido na câmara-de-ar permitiam assim melhorar consideravelmente o comportamento térmico dos edifícios.

No entanto, nos edifícios construídos com tijolo-à-vista, atendendo à porosidade dos próprios tijolos, das argamassas utilizadas nas respetivas juntas e ainda das condensações, o problema da ventilação e da drenagem da água da câmara-de-ar assumiu sempre uma particular importância.

Refere assim este autor, que:

“Em climas mais quentes ou com maior nível de humidade ambiental, esta câmara pode contemplar aberturas inferiores e superiores suficientes para permitir a ventilação e, simultaneamente, uma boa drenagem. Temos então aquilo a que convencionámos chamar fachada ventilada” .

As “fachadas corridas” em alvenaria vieram a revelar, no entanto, comportar grandes riscos construtivos. Libertos da estrutura em betão, os paramentos exteriores das fachadas não apenas dilatavam livremente, como se encontravam ainda frequentemente ancorados ao edifício através de sistemas de suporte e grampeamento relativamente artesanais e pouco eficazes .

Alcino SOUTINHO - Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro da Universidade de Aveiro, 1987/92. Pormenorizações de fachada corrida em tijolo-à-vista, parcialmente suportada por cantoneiras de aço.

O Campus da Universidade de Aveiro, por exemplo, foi palco de diversas experiências construtivas deste tipo, com consequências nefastas no que se refere à integridade dos edifícios, tendo ocorrido diversos casos em que foi necessário proceder a reparações avultadas nas fachadas dos edifícios em consequência da fissuração resultante da excessiva dilatação das mesmas.

Alcino SOUTINHO - Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro da Universidade de Aveiro, 1987/92. Os dois tipos de tijolo denunciam as reparações efetuadas na fachada do edifício.

Verificou-se, consequentemente, que a solução para eliminar as pontes térmicas nos edifícios não podia passar pela execução de soluções construtivas envolvendo revestimentos independentes rígidos e demasiado pesados, como as “fachadas corridas” anteriormente descritas.

Tornou-se assim necessário encontrar outro tipo de soluções, envolvendo materiais mais leves que, adequadamente fixos ao suporte, resolvessem este problema, possibilitando a colocação dos isolamento térmicos dos edifícios pelo exterior das alvenarias sem que ocorresse o risco da fissuração das mesmas.

Em Portugal, os pioneiros neste campo foram certamente as empresas ligadas à aplicação de pedra natural em fachadas. Com efeito, procurando resolver o problema do aparecimento de manchas nas zonas de colagem das pedras às alvenarias, estas empresas foram desenvolvendo diversos tipos de grampos de fixação que asseguravam a independência entre suporte e revestimento através da interposição de uma câmara-de-ar, ventilada graças às juntas abertas.

Os isolamentos térmicos passaram então a ser colocados no interior desta câmara-de-ar, fixos às alvenarias. Estava aberta a oportunidade para o aparecimento dos modernos sistemas de fachadas ventiladas, consoante foram sendo adaptadas as formas de fixação de alguns materiais tradicionais, como as cerâmicas, ou foram sendo desenvolvidos novos materiais de revestimento

VANTAGENS

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Uma fachada ventilada é, basicamente, constituída por um revestimento pouco espesso suportado através de fixações mecânicas a uma subestrutura, separado das alvenarias por uma câmara-de-ar ventilada dotada de um isolamento térmico. Trata-se de uma sistema construtivo que apresenta grandes vantagens relativamente às soluções tradicionais:

Gerais

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O revestimento, suportado pela estrutura de suporte, torna-se independente do edifício. Por esse motivo, os esforços e vibrações que normalmente se traduzem em fissurações das fachadas tradicionais não têm repercussões nos revestimentos das fachadas ventiladas, reduzindo-se assim as despesas relacionadas com as respetivas reparações.

Independentemente da existência de qualquer irregularidade decorrente da execução da estrutura e das alvenarias, é possível executar uma fachada ventilada devidamente aprumada, graças às afinações disponíveis nas subestruturas que as suportam.

Uma parte significativa dos sistemas de fachadas ventiladas existentes ficam limpos com as primeiras chuvas, o que representa também uma poupança significativa na manutenção dos edifícios.

Comportamento higrotérmico

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Como já vimos, as fachadas ventiladas permitem que o isolamento térmico seja aplicado de forma contínua em toda a envolvente exterior dos edifícios, eliminando-se as pontes térmicas. Da eliminação das pontes térmicas resultam duas vantagens importantes. Por um lado, reduzem-se os desperdícios de energia resultantes das perdas geradas nos momentos em que se aquecem ou refrigeram os compartimentos. Por outro lado, eliminam-se os fungos originados pelas condensações do vapor de água gerado no interior contra as superfícies frias situadas ao longo das pontes térmicas. Alia-se assim, à maior inércia térmica do edifício, a ausência de condensações no interior.

As fachadas ventiladas reduzem significativamente o aquecimento dos edifícios no verão. O revestimento exterior protege o edifício da incidência direta dos raios solares, sombreando-o. A câmara-de-ar ventilada, por sua vez, impede o calor acumulado no revestimento exterior de ser transmitido para o edifício, graças à circulação de ar induzida por convecção. O ar quente sobe, saindo pela junta de ventilação superior, sendo substituído pelo ar frio que entra na câmara-de-ar pela junta de ventilação inferior .

No inverno o revestimento e a câmara-de-ar não contribuem para o aquecimento do edifício, mas a ventilação por convecção anteriormente referida reduz significativamente o teor de humidade da câmara-de-ar, melhorando o desempenho dos isolamento térmicos, principalmente nos casos em que estes são de poros abertos, como é o caso das lãs minerais .

Proteção hídrica

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A grande maioria dos revestimentos para fachadas ventiladas existentes no mercado Português são impermeáveis, ou têm um coeficiente de absorção extremamente reduzido (inferior a 5%), o que protege as alvenarias do edifício da pluviosidade.

Aliada à impermeabilidade dos revestimentos, uma grande parte das soluções desenvolvidas pelas empresas do sector asseguram ainda, nas juntas verticais dos painéis, ou a respectiva vedação, ou a drenagem da água da chuva ao longo de perfis apropriados para esse efeito. Nos sistemas que possuem juntas verticais abertas e nas juntas horizontais, a maior parte da água proveniente das intempéries drena pela parte interior do painel, escoando para o exterior junto ao solo. Nestes casos importa que, aliada à ventilação, se assegure uma espessura adequada para a câmara-de-ar e se opte por um isolamento térmico apropriado, preferencialmente com poros fechados e reduzida capacidade de absorção de água . Em qualquer dos casos, a drenagem da água, a ventilação e a difusão do vapor de água na câmara-de-ar contribuem para a vedação hídrica do edifício, eliminando infiltrações e condensações.

Proteção acústica

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A independência entre revestimento e edifício, aliada à introdução de amortizadores de vibrações intercalados entre o sistema de fixação da estrutura do revestimento e as alvenarias, reduzem significativamente o nível do ruído aéreo dentro do edifício, uma vez que impedem as ondas sonoras de penetrarem no mesmo .

Reabilitação

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Os sistemas para fachadas ventiladas apresentam grandes vantagens na recuperação e reabilitação de edifícios. Permitem adequá-los às atuais exigências de conforto, resolvendo ainda os problemas das infiltrações de águas provenientes das fissurações das alvenarias. Por outro lado, como os trabalhos são executados pelo exterior, possibilitam ainda que as obras se realizem com o edifício habitado .

Sustentabilidade

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Finalmente importa lembrar o que a poupança no aquecimento e refrigeração dos edifícios, associada à redução da manutenção das fachadas representam para a sustentabilidade dos mesmos .

Vantagens das Fachadas Ventiladas

COTAÇÃO

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Apresentam-se seguidamente valores do preço por m2 dos sistemas de fachadas ventiladas anteriormente descritos, alertando-se que as cotações são meramente indicativas, uma vez que existem fatores determinantes para a aferição final dos custos, nomeadamente ao nível do tipo e qualidade do revestimento e das quantidades envolvidas em cada obra. Os valores apurados referem-se ao sistema completo, aplicado, incluindo revestimentos e substrutura, com a exclusão dos isolamentos térmicos.

pedras naturais
80 a 120€
painéis de resinas fenólicas
85 a 110€
painéis de fibrocimento
.
- natural
65 a 70€
- pigmentados em massa
85 a 90€
- coloridos com filme
85 a 90€
Painéis Madeira / Cimento
.
- sistema parafusos ou rebites
40 a 50€
- sistema com pernos visíveis
70€
- sistema misto
50 a 55€
Cerâmicas em Grés Porcelânico
90 a 120€
Cerâmicas Extrudidas
90 a 90€
Painéis de Alumínio Tricamada
95 a 100€

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A ordem pela qual no presente estudo foram apresentados os diversos sistemas para fachadas ventiladas não é inocente. De alguma forma, reflete o acréscimo de sofisticação das soluções existentes.

Os primeiros sistemas analisados, os de fixação de pedras naturais, são ainda relativamente pouco sofisticados. Dependem de fixações pontuais diretamente ancoradas às alvenarias, que só podem ser executadas à custa da abertura de orifícios nos isolamento térmicos. Embora os aplicadores colmatem normalmente os referidos orifícios com espuma de poliuretano, a integridade e continuidade dos isolamentos fica irremediavelmente comprometida. Este problema estende-se ainda à impermeabilização das fachadas, normalmente realizada com argamassas hidrófugas cuja integridade nem sempre pode ser assegurada.

Os sistemas de fixação das peças cerâmicas extrudidas e dos painéis de alumínio tricamada analisados, por outro lado, demonstram já uma notória evolução tecnológica. São sistemas sofisticados, versáteis e fiáveis, que não comprometem a integridade dos isolamentos térmicos e dispensam a impermeabilização das fachadas. Os sistemas de fixação das peças cerâmicas extrudidas permitem mesmo a substituição de peças pontuais, em caso de quebra ou fissuração, sem a necessidade de remoção das que lhe são contíguas.

Os restantes sistemas, por outro lado, demonstram uma certa tendência para a estandardização dos perfis de suporte e fixação dos revestimentos. Para tal contribui, claramente, o facto de serem utilizados maioritariamente perfilarias fabricadas por empresas distintas das dos fabricantes destes últimos.

Esta estandardização é bem vinda. Permite antever o momento em que contribuirá para a redução do preço de aplicação dos referidos revestimentos, redução esta que se nos afigura imprescindível para que os sistemas de fachadas ventiladas comecem a ser utilizados de forma mais sistemática em Portugal. A indústria, aparentemente, já compreendeu esta necessidade, atendendo à similaridade de grande parte das soluções construtivas apresentadas no presente estudo, faltando agora conseguir dar os passos necessários para a referida redução de custos

Se este passo for dado, estamos convictos de que as fachadas ventiladas rapidamente passarão a ser maioritariamente adoptadas na construção e reabilitação de edifícios, atendendo a todas as vantagens construtivas referidas no presente estudo e às inegáveis potencialidades arquitetónicas.